terça-feira, maio 13

ovo

teu nome é
o não dito

a palavra na boca
abre uma fenda
inaudível

pensei hoje vou falar 
pensei
corpo em verbo
falar 
corpo / a dobra do hálito / a boca

dizer / no ar adensa
o não dito

pesa / o peso do mundo
sossega em minha glote
(amor, amor)

agora

olha

abre uma fenda — diga / digo
falar por mim — estanca / morre









domingo, maio 4

Dois

I - ÉBRIA

aqui dormimos
    aqui acordamos


             esse amor dançando
            em minha boca


       na cidade infinita
           de nossos corpos
 
          
           dormimos
     acordamos

 
  sem pressa
     seguimos - até

      que seja outra a nossa
               descoberta



II - SONHO


seja então esse braço
(cansado
breve
mutilado)
outro braço

uma rua para tanto chão
e asas as omoplatas

dilata
dilata

debulha o nó de suas palavras

cansadas
escancaradas

lembram aquela boneca russa
toda aberta
tantas bonecas

sem mãos para se fechar





 

quinta-feira, maio 1

ritual in transfigured time

dançávamos
no saguão
de nossas cabeças

dançávamos
dançava ao lado
o torvelim
de nossas cabeças

nós
entre as pernas
do asfalto

insistindo
em nos
possuir

entre os membros desse chão sem cor

dançávamos

insistindo em nos possuir.