terça-feira, outubro 29

diálogo com ana c

Desde que voltei tenho sobressaltos ao ouvir tua voz ao telefone. Incertas. Às vezes me despeço com brutalidade. Chego a parecer ingrata.

não, pedro, não quero mais brincar de puta.
e não sou eu quem diz:
nada mais claro que o Universo te dando um sinal.
acaso não foi abrir esta página 79 a teus pés ana c
acaso não foi te chutar a cara ou te beijar a boca enquanto
apenas desejava mijar na fila do banheiro
(bem poderia te mijar a cara)
acaso não é escrever um poema cheio de mentiras
e não é à toa que toca no rádio me deixa em paz, uhm,
você não devia me procurar.

agora minha boceta tem o cheiro da tua porra
e não tomo banho não quero mais lavar
a alma da tua presença espectral
em meu corpo
a alma do último suspiro da tua prole seca
em mim

sim, ainda vou te mijar a cara.


terça-feira, outubro 15

brotam novas dobras em seu prazer difuso
entre a minha cabeça e uma flor
se abrindo – é primavera
- - explode – estanca
a cura em seu voo riscado
de adeus

testes  infantis timbres débeis
ensaia teu voo arriscando
uma paisagem má, nova estação
que governas

já não é o presente esta cela
onde sempre imitamos
e imitamos – é primavera
dissolve-se o tempo na ribeira a voz
entre peixes um dia fomos

já não é o presente minha tua memória
devaneando entre becos de assimilação e jorro
derramando a substância de suas cores outonais
turvas

_______é quando há dobras, desabrocha

crivo noutra língua tua expressão:
céu de nuvem pétrea
morte em palavra morta
verbo a que ninguém pertence.