quinta-feira, setembro 27

 a cidade que vejo se revela
e resvala
como os olhos de um desconhecido.

 

era a cidade:
(apontava o seu braço reto e magro)
das escadas curvas
libertos os gatos sobre seus impérios degraus
infinitos degraus onde todo o corpo se consome

hoje perco a sua forma (cidade, cidade)
mas as casas nada poderia detê-las
tão iluminadas gralhas de memória e fantasmas
onde o mesmo cheiro é
sempre o cheiro da casa
dos três quartos vazios
 e uma árvore empoeirada.

pois que a cidade é outra.
não há minha cidade:
corpo difundido ao vácuo antes
das casas entre a fumaça
e a sua cabeça
cáustica, evadir-me na fumaça
asfixiar a árvore
e toda a nuvem de poeira que deflagram os seus galhos

(em uma cidade alheia
muitos anéis afogam-se nas banheiras)

 
hoje a cidade é
o vinho das 7 p.m.
- não há chá com torradas
- não há curva dos seus ombros

 
hoje a cidade é
toda cisão e seus repentes:
toda a fome de seus mendigos.

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